O BEIJO DA ESCRITA!

Eu escrevo como quem beija.
     Um beijo longo,
   demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta
lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.
Do outro que me encontra neste texto
e do que há em mim que permite
o encontro.
Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse
que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras
compartilhadas, sussuradas,
como um afago?
Quem é esse outro
que me encontra
e quem sou esse eu mesma
que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que , afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento
mesmo
associado ao movimento
do outro.
Quando escrevo
eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer
parar de escrever.
NUNCA.

Dra. Maria Luiza Cardinale Baptista (Malu)

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